Por que você deveria se aventurar nas trilhas?
Se pararmos para pensar, o ser humano faz trilhas desde que pisou na Terra. No Brasil, a maioria das trilhas de trekking & mountain bike da Mata Atlântica que conhecemos hoje foram abertas pelos povos indígenas antes do século XV.
As trilhas foram fundamentais durante os séculos XVII e XVIII para o transporte do café, e uma das mais importantes desta época foi o ”Velho Caminho do Rio de Janeiro”, hoje conhecido como ”Estrada Real”, que ligava Vila Rica (atual Ouro Preto), em Minas Gerais, com Paraty no Rio de Janeiro.
Percorrer uma trilha, além de todo o valor cultural e histórico que pode trazer, promove o ecoturismo e a educação como instrumentos para a construção da racionalidade ambiental. Além disso, também traz diversos benefícios à saúde de quem pratica.
Entrevistamos o Thiago Souto, que começou sua vida nas trilhas ainda moleque na cidade em que cresceu, Teresópolis — cidade conhecida como a capital brasileira de montanhismo. Hoje ele é o responsável por comandar e mapear todos os passeios às “Trilhas Zen” que acontecem aqui na Mude, e vai contar pra gente os motivos pelos quais deveríamos nos arriscar nas trilhas.
“Foi no pós pandemia que tivemos o boom de pessoas indo atrás de atividades físicas e a trilha teve uma alta procura, as pessoas estavam cansadas da monotomia e sedentas por aventuras. A trilha desperta muito esse sentimento na gente: de desafio e superação”, explica Souto.
Projeto de “Trilhas Zen” da Mude. Foto: Hélio Bessa
Como as trilhas podem ajudar o turismo local?
O momento foi bom para todo mundo: guias de trilhas, a indústria de turismo e empresas que alugam equipamentos para escalada. Os eventos de aventura são uma grande alavanca para o turismo local, e tem muito valor quando, por exemplo, os próprios moradores de uma região percebem que existe uma trilha que leva a um topo com uma vista incrível, um poção ou cachoeiras, e então começa uma organização para atrair turistas. A partir daí, todo o comércio local se beneficia: o rapaz da padaria, a tia do bolo, a moça que vende biquínis e por aí vai.
O que muda na vida de uma pessoa quando ela começa a fazer trilhas?
As trilhas desempenham importantes funções e, entre elas, destaca-se a real conexão entre os praticantes e a natureza, criando maior compreensão e apreciação dos recursos naturais e culturais. Você se pergunta qual impacto está gerando para aquele local, e aí acaba despertando um interesse maior de pequenas ações de preservação.
Todo o perrengue que passamos na trilha retorna como ensinamentos pro dia a dia. A gente aprende a ter paciência, resiliência, contamos com o nosso companheiro de trilha e temos controle emocional. A melhor parte é o momento de desconectar e ficar imerso na experiência.
Apesar de inicialmente as trilhas causarem desconforto cardíaco, tudo isso, depois, retorna em uma lista de benefícios para sua saúde, principalmente se você passa a treinar para melhorar o condicionamento.
Projeto de “Trilhas Zen” da Mude. Foto: Hélio Bessa
O que a prática de trilhas e educação ambiental têm a ver?
Elas caminham juntas, mas até certo ponto. Quando um grupo marca para fazer uma trilha, não necessariamente estão preocupados com o meio ambiente. A gente vê muitos problemas de pixação, marcação em árvores, lixo por toda parte, e nada disso tem conexão com educação ambiental. Mas quanto mais esses grupos frequentam esses espaços e se conectam com a natureza, mais elas se integram e se aproximam do meio ambiente, e aí, por fim, temos o início da conscientização. Por isso, iniciativas do poder público, das escolas e muitas outras são tão importantes.